segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Especial fim de Ano: Samba parte 6

A influência do Estado na promoção do samba carioca


Carmen Miranda no filme The Gang's All Here. Cantora luso-brasileira ajudou a divulgar o samba em nível internacional.
O presidente Getúlio Vargas deu grande suporte a popularização e consolidação do samba carioca urbano, em detrimento a outras variedades de samba cultivadas em outras regiões do país (assim como de outros gêneros musicais bastante populares regionalmente, como emboladas, cocos, a música caipira paulista). Principalmente durante o Estado Novo, o governo brasileiro patrocinava apresentações públicas de intérpretes populares desse samba em eventos badalados - como o "Dia da Música Popular" e a "Noite da Música Popular". Símbolo da elite carioca, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro passou a receber artistas renomados do samba. Em uma ação para promover o estilo como produto genuinamente "nacional", as transmissões radiofônicas oficiais incumbiam-se de levar o samba carioca urbano ao exterior. Houve até programas irradiados para a Alemanha nazista diretamente do terreiro da escola de samba Mangueira. Muitos cantores também integravam comitivas presidenciais em viagem ao estrangeiro.[8]
Villa-Lobos foi um dos intelectuais renomados que reconheceram o valor do samba.
Além de ganhar status de "música nacional" durante a Era Getúlio Vargas, o samba (carioca urbano) passou a ter também reconhecimento dentro de setores da elite cultural nacional. Entre eles, o maestro Heitor Villa-Lobos, que ajudou a organizar uma gravação com o maestro erudito norte-americano Leopold Stokowski no návio Uruguai, em 1940, do qual participaram Cartola, Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Zé da Zilda.[21] Cassinos e o cinema foram outros instrumentos que ajudaram a consolidar a posição do samba (carioca urbano) como símbolo musical nacional - a cantora luso-brasileira Carmen Miranda, bastante popular à época, conseguiu projetar esse samba internacionalmente a partir de filmes.
A ideologia do Estado Novo de Getúlio Vargas ajudou a retirar a imagem de marginalidade samba carioca, outrora negativamente associada "como antro de malandros e desordeiros",[22] O Departamento de Imprensa e Propaganda procurava coagir compositores a abandonarem a temática da malandragem nos seus sambas, através de políticas de aliciamento ou na base da censura. É do final dos anos trinta do século XX que surgiria um estilo de samba de "caráter legalista", conhecido mais tarde como samba-exaltação (ou também "samba da legalidade").[2] O samba-exaltação caracterizava-se por composições em exaltação ao trabalho (como na notória letra de "O Bonde São Januário", parceria de Ataulfo Alves) com o "malandro consagrado" Wilson Batista, sucesso do carnaval de 1941) ou ao país (como "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, gravada por Francisco Alves em 1939, e que se transformou no primeiro sucesso musical brasileiro no exterior). Apesar da atuação do Estado na cooptação de sambistas, havia compositores que tentavam driblar o poder censório ditatorial, com letras carregadas de sutilezas e ironias (como em "Recenseamento", de Assis Valente, que embora pareça reproduzir o discurso de exaltação ao "Brasil grande e trabalhador", desmonta os argumentos oficiais).[8]

Influências externas no samba urbano

Ver artigos principais: Samba de gafieira, Sambalada, Bossa Nova, Sambalanço.
A partir da década de 1940 e ao longo da década de 1950, o samba recebeu novas influências de ritmos latinos e norte-americanos. As concentrações urbanas provocaram o aparecimento das primeiras danceterias populares, as chamadas gafieiras, palco para estilos novos que surgiriam dentro do seio do samba, como são os casos dos sincopados samba-choro e samba de gafieira. O samba-de-gafieira foi um sub-gênero surgido sob influência de ritmos latinos e norte-americanos - geralmente instrumentais e tocados por orquestras norte-americanas (adequada para danças praticadas em salões públicos, gafieiras e cabarés) - que chegavam ao Brasil em meados da década de 1940 e ao longo da década de 1950. Nesta década surgiu também a sambalada - uma espécie de samba-canção com letras românticas e ritmo lento como as baladas lançadas no mercado brasileiro.
No final da década de 1950, nasceria o principal a Bossa Nova. Nascida na zona sul do Rio de Janeiro e fortemente influenciado pelo jazz, a Bossa Nova marcaria a história do samba e da música popular brasileira com uma acentuação rítmica original - que dividia o fraseado do samba e agregava influências do impressionismo erudito e do jazz - e um estilo diferente de cantar, intimista e suave.[23] Após precursores como Johnny Alf, João Donato e músicos como Luís Bonfá e Garoto, este sub-gênero foi inaugurado por João Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e teria uma geração de discípulos-seguidores como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Durval Ferreira e grupos como Tamba Trio, Bossa 3, Zimbo Trio e Os Cariocas.
Também no final da década de 1950, surgiria o sambalanço, uma ramificação popular da bossa nova (que era mais apreciada pela classe média). Também misturava o samba com ritmos norte-americanos como o jazz. O sambalanço foi muito tocado em bailes suburbanos das décadas de 1960, 1970 e 1980. Este estilo projetou artistas como Bebeto, Bedeu, Copa 7, Djalma Ferreira, Os Devaneios, Dhema, Ed Lincoln e Seu Conjunto, Elza Soares, Grupo Joni Mazza, Luis Antonio, Luís Bandeira, Luiz Wagner, Miltinho, entre outros.

Reaproximação com o morro

Nelson Sargento em show no Sesc Esquina, Curitiba, em 2007. Artista integrou o conjunto A Voz do Morro.
Com a bossa nova, o samba se afastou ainda mais de suas raízes populares. A influência do jazz aprofundou-se e foram incorporadas técnicas musicais eruditas. A partir de um festival no Carnegie Hall de Nova York, em 1962, a Bossa nova alcançou sucesso mundial. Mas ao longo das décadas de sessenta e setenta, muitos artistas que surgiam - como Chico Buarque de Holanda, Billy Blanco, Martinho da Vila e Paulinho da Viola defenderam o retorno do samba a sua batida tradicional, com a reaparição de veteranos como Candeia, Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Kéti.
No início da década de 1960 foi criado o "Movimento de Revitalização do Samba de Raiz", promovido pelo Centro Popular de Cultura, em parceria com a União Nacional dos Estudantes. Foi o tempo do aparecimento do bar Zicartola, dos espetáculos de samba no Teatro de Arena e no Teatro Santa Rosa e de musicais como "Rosa de Ouro". Produzido por Hermínio Bello de Carvalho, o "Rosa de Ouro" revelou Araci Cortes e Clementina de Jesus.
Dentro da bossa nova surgiram dissidências. Uma delas gerou os Afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes. Além disso, parte do movimento se aproximou de sambistas tradicionais, especialmente de Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Kéti e, mais adiante, Candeia, Monarco, Monsueto e Paulinho da Viola.[1] A exemplo do sambista Paulo da Portela, que intermediou as relações do morro com a cidade quando o samba era perseguido, Paulinho da Viola - também da Portela - seria uma espécie de embaixador do gênero tradicional diante de um público mais vanguardista, entre os quais os tropicalistas. Também do interior da bossa nova apareceria Jorge Ben para dar sua contribuição autoral mesclada com o rhythm and blues norte-americano, que mais adiante suscitaria o aparecimento de um subgênero apelidado suíngue (ou samba-rock).[2]
Durante os anos sessenta, apareceram grupos formados por sambistas com experiências anteriores no universo do samba e músicas gravadas por grandes nomes da MPB. Entre eles, estavam Os Cinco Crioulos (composto por Anescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho e Paulinho da Viola, substituído mais tarde por Mauro Duarte), A Voz do Morro (composto por Anescarzinho do Salgueiro, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Nelson Sargento, Oscar Bigode, Paulinho da Viola, Zé Cruz e Zé Kéti), Mensageiros do Samba (Candeia e Picolino da Portela), Os Cinco Só (Jair do Cavaquinho, Velha, Wilson Moreira, Zito e Zuzuca do Salgueiro).
Fora da cena principal dos chamados festivais de Música Popular Brasileira, o samba encontraria na Bienal do Samba, no final dos anos sessenta, o espaço destinado a grandes nomes do gênero e seguidores. Ainda naquele final de década, aparecia o chamado "samba-empolgação" dos blocos carnavalescos Bafo da Onça (Catumbi), Cacique de Ramos (Olaria) e Boêmios de Irajá (Irajá).[1]
Ainda na década de 1960, surgiu o samba-funk. O samba-funk surgiu no final da década de 1960 com o pianista Dom Salvador e o seu Grupo Abolição, que mesclavam o samba com o funk norte-americano recém-chegado em terras brasileiras. Com a ída definitiva de Don Salvador para os Estados Unidos, o grupo encerrou as atividades, mas no começo da década de 1970 alguns ex-integrantes como Luiz Carlos Batera, José Carlos Barroso e Oberdan Magalhães se juntaram a Cristóvão Bastos, Jamil Joanes, Cláudio Stevenson e Lúcio da Silva para formar a Banda Black Rio. O novo grupo aprofundou o trabalho de Don Salvador na mistura do compasso binário do samba brasileiro com o quaternário do funk americano, calcado na dinâmica de execução, conduzida pela bateria e baixo. Mesmo após o fim da Banda Black Rio, em 1980, DJs britânicos passaram a divulgar o trabalho do grupo e o ritmo fora redescoberto em toda a Europa, principalmente na Inglaterra e Alemanha.[1]

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