segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Especial fim de Ano: Samba parte 5

Difusão e "nacionalização" do samba carioca

Entre o final da década de 1920 e meados da década de 1940, o samba urbano carioca deixaria de ser considerado expressão local (como são tidos sambas em outras partes do país). Graças ao Estado, alcançaria status de símbolo "nacional".[8][9][15] Esse samba oriundo de uma região do Rio de Janeiro espalhava-se por outras áreas da cidade, não apenas com os sambas de carnaval, mas também com novas formas dentro do estilo moderno carioca, como o samba-canção e o samba-exaltação. Difundidos pelas ondas do rádio,[19] estes estilos cariocas seriam conhecidos em outras partes do Brasil, que, com a influência do governo federal brasileiro (mais propriamente partir dos projetos político-ideológicos do Estado Novo de Getúlio Vargas), elevaria o samba local da cidade do Rio de Janeiro à condição de samba "nacional" - muito embora existam outras formas e práticas do samba no país.[8][15][19] A aproximação do Estado brasileiro com a música popular deu-se também pela oficialização, em 1935, do desfile de carnaval pela Prefeitura do então Distrito Federal.
No período de consolidação do samba carioca como "samba nacional", surgiram uma nova safra de interprétes, que obtiveram grande sucesso radiofônico, como Francisco Alves, Mário Reis, Orlando Silva, Silvio Caldas, Carmen Miranda, Aracy de Almeida, Dalva de Oliveira, entre outros, e despontaram muitos compositores oriundos da classe média, como Noel Rosa, Ary Barroso, Lamartine Babo, Braguinha (conhecido também como João de Barro) e Ataulfo Alves. E mais tarde, Assis Valente, de Ataulfo Alves, de Custódio Mesquita, de Dorival Caymmi, de Herivelto Martins, de Pedro Caetano, de Synval Silva, que conduziram esse samba para caminhos ao gosto da indústria musical.[2]

Novos formatos dentro do samba carioca

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Conversa de botequim
Composto por Noel Rosa e Vadico. Gravação de 1935 por Noel Rosa.

Problemas para escutar este arquivo? Veja introdução à mídia.
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Uva de caminhão
Composto por Assis Valente. Gravação de 1939 por Carmem Miranda.

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Um dos carros-chefes das programações das emissoras de rádios na década de 1930 eram as composições de samba-canção, lançado inicialmente em 1928 com a gravação "Ai, Ioiô" (de Henrique Vogeler), na voz de Aracy Cortes. Também conhecido como samba de meio do ano, o samba-canção se firmou na década seguinte. Era uma forma mais lenta e cadenciada do samba e tinha como ênfase musical uma melodia geralmente de fácil aceitação. Esta vertente foi influenciado mais tarde por ritmos estrangeiros, primeiramente pelo fox e, na década de 1940, pelo bolero de enredos sentimentais. Se o samba carioca moderno dos sambistas da Estácio e dos morros tratava de temas diversos como malandragem, mulheres comportadas, favelas, o samba-canção destacava os sofrimentos amorosos. Além de "Ai, Ioiô", alguns outros clássicos do samba-canção foram "Risque", "No Rancho Fundo", "Copacabana" e "Ninguém Me Ama". Com o passar dos anos, outros artistas ganharam notoriedade no estilo, como Antônio Maria, Custódio Mesquita, Dolores Duran, Fernando Lobo, Henrique Vogeler, Ismael Neto, Lupicínio Rodrigues e Batatinha. O samba-canção seria ainda uma das principais fontes de inspiração da bossa nova no final da década de 1950.
Outra variante que surgia na década de 1930 era o samba-choro, que como aponta o nome, misturava o fraseado instrumental do choro (com flauta) ao batuque do samba. Entre as primeiras composições no estilo, figuram "Amor em excesso" (de Gadé e Valfrido Silva, em 1932) e "Amor de parceria" (de Noel Rosa, em 1935). Ainda naquele período, Heitor dos Prazeres lançou o samba "Eu choro" e o termo "breque" (do inglês break), então popularizado com referência ao freio instantâneo dos novos automóveis. Era o surgimento do samba-de-breque, variante do samba-choro caracterizada por um ritmo acentuadamente sincopado com paradas bruscas, os chamados breques, durante a música para que o cantor fizesse uma intervenção - geralmente frases apenas faladas, diálogos ou comentários bem humorados do cantor, que confere graça e malandragem na narrativa. Luís Barbosa foi o primeiro a trabalhar este tipo de samba, que conheceu em Moreira da Silva o seu expoente máximo. Outro destaque desta vertente foi Germano Mathias.

Escolas de samba e oficialização do desfile de Carnaval


Depois da fundação da Deixa Falar, o fenômeno das escolas de samba tomou conta do cenário carioca. Juntamente com as escolas de samba que galgaram estágios de aceitação, admiração e paternalização através dos anos, o samba-enredo se tornou um dos símbolos nacionais. Inicialmente, o samba-enredo não tinha enredo, mas isso mudou quando o Estado - notadamente durante o Estado Novo de Getúlio Vargas - assumiu a organização dos desfiles e obrigou o sambas-enredo a ser sobre a história oficial do Brasil.[20] A letra do samba-enredo conta uma história que servirá de enredo para o desenvolvimento da apresentação da escola de samba. Em geral, a música é cantada por um homem, acompanhado sempre por um cavaquinho e pela bateria da escola de samba, produzindo uma textura sonora complexa e densa, conhecida como batucada.
Durante a década de 1930, era costume em um desfile de escola de samba que, na primeira parte, esta apresentasse um samba qualquer e, na segunda parte, os melhores versadores improvisassem, geralmente com sambas saídos do terreiros das escolas (atuais quadras). Estes últimos ficaram conhecidos como sambas-de-terreiro. Iniciadas nos moldes dos ranchos carnavalescos, as escolas de samba – inicialmente com Mangueira, Portela, Império Serrano, Salgueiro e, nas décadas seguintes, com Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense e Mocidade Independente – cresceriam ao logo das décadas seguintes até dominarem o Carnaval carioca, transformando-o em um grande negócio com forte impacto no movimento turístico.

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